A maioria dos beneficiários da primeira geração do Bolsa Família, entre 7 e 16 anos, ao atingir a idade adulta, deixou de depender do programa, revela estudo da Fundação Getúlio Vargas em parceria com o Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social. A pesquisa, que analisou beneficiários de 2005, mostrou que apenas 20% continuavam recebendo assistência em 2019.
O estudo foi conduzido para examinar a presença e os padrões de mobilidade social na base da pirâmide social brasileira após a introdução do Bolsa Família. Foram analisados os dados dos beneficiários com idades entre 7 e 16 anos até dezembro de 2005, que foram monitorados por mais de 10 anos, até 2019.
O estudo examinou beneficiários entre 7 e 16 anos em 2005. Em 2019, após 14 anos, apenas 20% ainda recebiam assistência do governo. Os dados revelaram que 64% dessas pessoas, agora com idades entre 21 e 30 anos, não estavam mais registradas no Cadastro Único, uma base de dados do governo federal sobre pessoas em situação de pobreza. Dentre elas, 45% conseguiram ingressar no mercado formal de trabalho pelo menos uma vez entre 2015 e 2019.
“O Bolsa Família insere-se em um conjunto de intervenções que compõe a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, foi uma das estratégias utilizadas para retirada do Brasil do Mapa da Fome da FAO, marco que conquistamos em 2014, articulada com uma política de valorização contínua do salário mínimo, e consequente ampliação dos níveis de renda e poder de compra da população”, declarou em entrevista o professor José Anael Neves, da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Cerca de 20% das pessoas que recebiam o auxílio durante a infância e juventude ainda o mantêm, indicando, conforme a pesquisa, uma “relativa mobilidade social na base da distribuição de renda do Brasil para os beneficiários do Bolsa Família”.
O estudo teve como meta analisar a taxa de emancipação dos programas sociais do governo federal e a entrada dessas pessoas no mercado formal de trabalho.
Neste ano, o programa Bolsa Família completa duas décadas. Lançado em 2003 durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o programa consolidou quatro programas (Bolsa Escola, Vale Gás, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação) de transferência de renda do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em um único benefício. Inicialmente, o programa estabeleceu um benefício básico de R$ 50 para famílias com renda per capita de até R$ 50, e um benefício variável de R$ 15 (também até o limite de R$ 45) para famílias com crianças cuja renda per capita fosse de até R$ 100.